terça-feira, 18 de dezembro de 2012

O Absurdo no útero


Já há alguns dias me atino a pensar em Deus criador do universo, sustentador do cosmo. Um Deus ilimitado, para além do além. Ao mesmo tempo em que este Deus se revela nos limites do útero de Maria durante nove meses. Como um bom baiano, pensar nesta possibilidade me faz exclamar: “Oxente, como assim?”.
Pensar Deus a partir dos esboços sistemáticos teológicos é de fato crer no absurdo, pois Deus é "algo" que não começa nem termina. Não é possível entender Deus. Tertuliano diz: “Eu creio porque é absurdo”. Deus é absurdo. Ele é tão absurdo que não é possível percebê-lo adsorvido ao tempo e espaço. Ele é “aquilo” que não se pode dizer ou definir, totalmente incompreensivo. Para o homem era simplesmente impossível aproximar, ver, tocar ou sentir Deus. Mas, no tocante a isso, o absurdo torna-se ainda maior. Deus é tão absurdo que se diminuiu até que chegou ao útero, fez-se homem. Deus no útero é um absurdo, Ele se esvazia d’Ele mesmo, se diminui, sendo Homem e Deus.
Deus encarnou em Jesus de Nazaré, que nasceu em Belém da Judeia. No natal, comemoramos o dia em que Deus ficou do tamanho do homem. Veja só que loucura! Deus do tamanho do homem. 
Só é possível percebermos Deus através de Jesus, só é possível pensar em Deus através de Jesus, só é possível sentirmos Deus através de Jesus. Deus se relaciona com o homem através de Jesus. Sendo assim, só posso falar de Deus tocando em Jesus. “Há um só Deus e mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem”. Ou seja, quando nós quisermos pensar em Deus, temos que pensar em Jesus. Qualquer outra coisa que pensarmos de Deus e não passarmos por Jesus, certamente estaremos designados ao erro. Tudo o que pensamos sobre Deus, tem que está em Jesus. Se a fala sobre Deus não condiz com Jesus, então, esta fala não tem valor algum, é palha.
Jesus disse assim: “Quem me viu a mim, viu o Pai”.  Creio, por isso é absurdo. Jesus é Deus. Toda fala sobre Deus aponta para Jesus, se assim não for, não há Deus.
Jesus é a exata expressão de Deus o Pai. Paulo disse: “Em Jesus habitou a plenitude da divindade”.
A igreja cristã tem vivido a dois mil anos tentando mostrar que Jesus é igual a Deus, penso que chegou a hora de mostrarmos que Deus é igual a Jesus.
Deus, o absurdo, ele é espírito, intocável, invisível, inalcançável. Contudo, Jesus está entre nós, ele é carne, palpável, visível, alcançável, este é o verdadeiro sentindo do natal. Deus é igual a Jesus, por isso se torna possível, és um absurdo ainda maior.
O natal é a data mais extraordinária do calendário cristão, pois o Deus inacessível, absurdo, se fez carne e habitou entre nós e vimos a sua glória. Isso é natal. Por isso Ele é Emanuel (Deus misturado no barro).
Natal é Deus no útero, é Deus na gente e com a gente, é o Deus gente.
O natal é a evidência que só encontramos Deus em Jesus Cristo homem, é no mundo dos homens que encontramos Deus.
Onde está Deus no mundo dos homens? Nos homens. É por isso que a Bíblia diz que a Igreja é o corpo de Cristo. Quem quer encontrar a Deus, precisa procurá-lo no mundo dos homens. Deus está na terra, no homem.
Nós não habitamos a “espiritrosfera”, nós habitamos o planeta terra. Nós não vamos experimentar Deus em arrebatamentos para o céu, Deus só pode ser experimentado no mundo dos homens.
O natal é o encontro das relações, do amor, do perdão, da gratidão, do aconchego, do carinho, do sorriso, do abraço, da família, da alteridade, da cumplicidade, da harmonia, da bondade, da troca de presentes, da mesa comunitária.
Natal é sair do nosso casulo de egoísmo orgulhoso para abraçar o outro, para olhar o outro, tocar no outro. Natal é a experiência de acolhimento, afeto e amor. Natal é ser-no-mundo-com-o-outro.
O natal é gente encontrando gente; é Deus em Jesus tornando-se gente.
Feliz natal.
Ildeilson Santos

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

De verdade?



Minhas verdades são resultados das odisseias.
São verdades particulares, em oscilações constantes, variações diversas.
Verdades não instituídas como verdades.
Apenas possibilidades de outras possibilidades.
Não comungo das verdades incondicionais, elas são frágeis.
Verdades precisam ser questionadas e negadas,
Só assim serão de verdade.
A minha verdade não é a sua.
Verdades se quer falam a verdade.
Ver-da-des: são ver dados!
Nem todos dados são de verdade.
Vejo na verdade a verdade de não ver a verdade.
E ai entendeu?
- Não!!!
De verdade?

Ildeilson Santos

terça-feira, 9 de outubro de 2012

Aprender com os erros


Nos encontros e desencontros da vida, deparamos em algumas ocasiões com situações inoportunas que abalam a existência. Minha área de atuação profissional como também a vocacional levam-me a lugares desprovidos de alegria, esperança, ambientes áridos... Sem vida, sem graça, sem dignidade, sem sorriso, sem alma... Vazios, rasos, feios, sórdidos...
Deparei-me com uma pessoa exaurida em saúde. Isso é normal, mas normal não era a postura desta pessoa diante da vida. Dizia ela: “Já me condeno tanto pelos erros que na vida eu cometi, pelas vezes que não soube decidir”.
Estas palavras tinham vida e morte ao mesmo tempo. Vida, pois estava ali e era bem audível; morte, porque causava dor, angústia e espanto. Suas palavras apontavam seus erros. A cada erro lembrado em suas palavras, exauria ainda mais sua situação. A incapacidade de perdoar a si mesmo matava aquele homem em seu próprio erro, como se seus erros o levasse direto à pena de morte.
Razoavelmente lembrei-me do grande pedagogo baiano Cipriano Luckesi, que ensaia sobre a “Construção da Aprendizagem a partir do erro”. O mesmo defende que “o erro não é fonte de castigo, mas suporte para o crescimento”. O erro é importante na construção da virtude. Precisamos fazer do erro um lugar de aprendizado, não um lugar de derrota ou morte.
Não se condene tanto, você é humano. Não é raro na vida nos autocondenarmos. Esta atitude não pode encontrar espaço na vida daqueles que compreendem a humanidade da existência. Não devemos nos culpar pelos erros cometidos, mas buscar possibilidades de mudanças para sermos melhores mesmo através dos erros.
Jesus sempre apregoou a misericórdia, todas as vezes que ele operava um milagre na vida de alguém, a virtude do milagre estava na capacidade da reinterpretação do ser humano, geralmente eram pessoas que estavam inseridas num contexto de miséria, angústia e dor. Eram vidas que deram errado. Historia que não valeram a pena. Pessoas que erraram e erraram feio. Os erros não podem nos atrofiar, pelo contrário, nossos erros precisam ser oportunidades de aprendizagem, e a partir daí, seremos pessoas melhores.

Ildeilson Santos

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

A minha felicidade e o outro



A busca pela felicidade é uma constante na vida do ser humano.
Sim, todos nós ambicionamos ser felizes.
Mas onde e como encontrar a felicidade?
A indagação exige reflexão.

Há poucos instantes ouvir alguém dizer que sua felicidade é o seu amado!
Achei um delito desumano para ambos. Quando deposito a responsabilidade de minha felicidade sobre o outro, acabo me privando de ser feliz. O outro pode me ajudar nos labirintos em busca da felicidade, mas não pode ser o motivo nem o centro dela. O outro não tem a responsabilidade de me fazer feliz. Imagine só que cedo ou tarde o outro deixe de existir, então deixarei de ser feliz?
A felicidade antes de qualquer coisa precisa ser uma decisão pessoal.

Não podemos cair na tentação de acreditar que seremos felizes para sempre. A vida está posta diante de todos nós de forma dialética apresentando situações e fatos que evidenciam o avesso, mas nem por isso, devemos deixar de acreditar na felicidade. A felicidade está atrelada ao horizonte das possibilidades e dos limites.

Nós somos os administradores legais pelo processo da nossa felicidade. É bem verdade que as pessoas que estão ao nosso lado são importantes nessa arte, são sinalizadores, assessores e parceiros. A felicidade não advém dos arcabouços da solidão, mas sim, do seio da cumplicidade, da graça, da bondade e da serenidade que não acontece no isolamento execrável, mas no ato de dar as mãos e caminharmos em direção das possibilidades e também nos encontros dos limites.

Quando eu não estiver feliz, o outro será aquele que se colocará do meu lado e me mostrará que a felicidade é uma possibilidade cercada de limites. Assim sendo, daremos as mãos e caminharemos sorrindo ou não, em busca da tão desejada felicidade.

Ildeilson Santos

Sou do sertão




Chão seco.
Terra dura.
Solo rachado.
Feito coalhada.
Nuvens ralas.
Céu azul.
Esperança a galope.
Coração medonho.
Mãos calejadas.
Suor...
Pele ardida.
Insolação.
Chapéu de couro.
Alforge e emoção.
Minha crença é minha direção.
Devoção.
Sou do sertão.
Não desisto não!

Ildeilson Santos

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Marcas da vitória




Estas são marcas de quem não se rende frente às lutas, daqueles que acreditam no amanhecer radiante, que fazem da honestidade princípio de vida e da esperança o pão de cada dia.
Labutam, labutam e não desistem porque entendem que os verdadeiros vencedores não são aqueles que erguem troféus e colecionam medalhas, mas sim aqueles que na luta pela sobrevivência permitem que a vida marque seus rostos com traços da dignidade e do trabalho, e isso não é derrota!
Assim é o homem e a mulher do nordeste. A estes não somente medalhas olímpicas de ouro, prata ou bronze, metais tão insignificantes diante da majestosa conquista de viver mais um dia.
As marcas não expressam vergonha muito menos incúria, mas as sucessivas vitórias conquistadas nas olimpíadas da vida.

Ildeilson Santos

terça-feira, 22 de maio de 2012

Chuva no sertão













Final de tarde, horizonte cinzento, nuvens carregadas,
Ainda cedo escurece.
A chuva vem vindo,
Traz consigo a certeza do sorriso,
Orações e rezas respondidas,
Depois de tanto tempo, quero mesmo é vadiar,
Correr na chuva pra me molhar.
Um pingo aqui, outro acolá,
Cada pingo que faz graça de olhar,
Molha a terra, também o coração onde a esperança vai brotar...
Cresce a esperança, flores é vida.
Terra molhada sinônimo da graça que alimenta a alma e mata a fome.
Traz farrinha, feijão, pepino e pimentão,
Alface, coentro, cebola e alcatrão,
Maracujá, milho, melancia e melão!
Quiabo, abobora, jiló,  xuxu é atração que dá gosto maior que camarão.
Eita fartura é o que não falta não!
Deixo um beijo molhado da chuva que molha e traz vida a meu sertão.
Ildeilson Santos

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