domingo, 14 de novembro de 2010

O pastor ferido, o pastor sacerdote e o pastor amigo!


Certo dia, um homem muito intelectual portador de vários diplomas, um Phd, encontrou com certo rabino que não consigo  lembrar o nome, mas o boato acerca de tal rabino era que ele conhecia muito bem o caminho da graça, do perdão e do amor. Conversar com ele era como ouvir palavras inaudíveis, perceber atitudes surpreendentes, ver aquilo que os olhos jamais contemplaram.
Este rabino, que não lembro o nome, viveu aqui pouco mais de trinta anos. Ele fez alguns discípulos e dizem até que ressuscitou mortos, curou enfermos, expeliu demônios, fez coisas inacreditáveis.
Não é de se admirar que um homem com tamanho poder seria capaz de fazer discípulos. Conta-se a história que milhares de pessoas aderiram ao projeto de discipulado ensinado pelo rabino. E, até os dias de hoje, milhares de pessoas vivem na expectativa de vivenciar este discipulado.

O homem muito bem instruído, Phd em uma área que também desconheço, fez uma pergunta um tanto capciosa ao tão magnífico rabino.
A pergunta foi: Como ser um bom pastor?

O Rabino logo se voltou para o Phd, admirado por tal pergunta e propôs uma parábola.

Certo dia, um pastor estava a cuidar de suas ovelhas, como fazia corriqueiramente, em busca de água, pastos verdejantes e campos repletos de tudo o que as mesmas precisavam para sobreviver. Ele as conduzia as águas tranqüilas em busca sempre de paz e refrigério.
Mas, como todo pastor, ele corria os riscos sempre evidentes do vale da sombra e da morte. Vale este, que está localizado logo à frente, um pouco mais adiante, onde todo pastor e suas ovelhas hão de passar. Será inevitável, não existe um atalho, não se pode mudar a rota, é um único caminho. É o caminho da vida!
É a vida e seus emaranhados, suas implicações, suas reviravoltas, astúcias, engrenagens, sutilezas... Esta é a vida, que só pode ser vivida uma única vez. A oportunidade está diante de ti, de viver com intensidade e ser feliz. É sempre bom lembrar que esta vida é breve, passa muito rápido e se não for aproveitada, quando chegar ao final, só restará cantar Epitáfio: “Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer, devia ter arriscado mais, e até errado mais, ter feito o que eu queria fazer... Queria ter aceitado, a vida como ela é, a cada um cabe alegrias, e a tristeza que vier...

O que de fato aconteceu foi que, ao passar pelo caminho da vida, no vale da sombra e da morte, que é um local, muito arriscado, ladeirado, uma estrada bem estreita e íngreme, cheias de curvas, este pastor, na labuta por suas ovelhas, por algum motivo se descuidou e escorregou caindo no despenhadeiro. Por milagre, conseguiu, com seu cajado pastoral, se agarrar em alguns ramos e ficou pendurado.
Ali estava um pastor ferido. Suas ovelhas, sem muito entender, ficaram abismadas, confusas, querendo salvar seu pastor querido, mas as mesmas não obtêm dos recursos necessários para ajudá-lo. Elas choravam, gritavam por socorro: “não podemos perder o nosso pastor, mas não sabemos como salvá-lo”. Elas bem que se esforçaram, mas o trabalho foi inútil! A cada momento que passava o pastor ferido se distanciava um pouco mais de suas ovelhas... Os ramos que prendiam o cajado estavam cada vez mais frágeis e, aos poucos, se soltavam do chão, não restando muito tempo ao pastor ferido. O abismo o esperava, o vale seria realmente sombrio e mortífero.

Mas, naquele instante, um pastor de grande eloqüência, um exímio pregador, um sacerdote de fato, estava a passar pelo mesmo caminho. As ovelhas se alegram, pois perceberam pelas vestes e pelo fato dele está com uma Bíblia em mãos, que aquele homem era um pastor. Logo, elas se agitaram e fizeram de tudo para chamar-lhe sua atenção, pedindo ajuda. Porém, o pastor sacerdote tinha suas obrigações com a instituição. Ele não podia parar. Iria se atrasar... Já estava no horário do culto, centenas de pessoas estavam a sua espera e, naquele dia, ele havia preparado o mais empolgante sermão de sua vida. Ele até parou, segurou na aba do seu terno italiano Dolce & Gabbana, consertou o nó de sua gravata importada Nina Ricci, percebeu que o seu sapato mocassim estava empoeirado precisando de um lustre antes mesmo de chegar à igreja, afinal de contas, aquela era um noite muito especial, pois o culto tinha como tema central a crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. Ao se inclinar, viu o pastor ferido, mas não quis se comprometer. Aquele pastor ferido poderia lhe trazer prejuízos, atrasos, as pessoas poderiam falar mal do pastor ferido e se ele o ajudasse, também poderia ser alvo das críticas. Enfim, o pastor sacerdote preferiu não se envolver, escolheu ser imparcial, optou passar de largo, seguir seu caminho e esquecer que na caminhada da vida, um dia ele deparou-se com um pastor ferido caído à beira do caminho.
As ovelhas revoltadas não entendiam o porquê da indiferença, o que o impedia de estender o seu cajado, a sua Bíblia para ajudar o pastor ferido? Assim, se foi o pastor sacerdote, em busca de cumprir suas obrigações religiosas e “salvar” mais algumas almas para encher sua igreja de fiéis e acrescentar a entrada de dízimos no final do mês.
Desespero, angústia, dor e morte, afinal de contas, aquele era o vale da sombra e da morte. Não havia mais esperanças, as ovelhas não queriam sair de perto do seu pastor que aos poucos escorregava, não tendo mais forças para continuar segurando o seu cajado. Era como ver a morte chegando aos poucos: ele agonizava, chorava, lamentava, mas nada as ovelhas podiam fazer. É o fim! Sim o fim chegou! O vale é o caminho que aponta para a morte!

Algumas ovelhas já desistiam, outras não suportavam ouvir os gemidos do seu pastor ferido. O sentimento de impotência fazia com que as ovelhas se dispersassem sem destino e sem direção... Quando o pastor é ferido as ovelhas ficam perdidas, a mercê dos ataques de predadores, feras e falsos pastores.

Lágrimas são as expressões mais autênticas do desencanto.

Porém, “quero trazer à memória aquilo que me dá esperança”.  (Lamentações 3:21)

Quando nada mais poderia ser feito, ver-se à distância alguém se aproximando. As ovelhas se alegram, acreditam que outro pastor está vindo e passará pelo caminho. Mas, ao se aproximar, o desânimo toma conta das ovelhas, pois o homem não tem aspecto de pastor. Ele não carrega uma Bíblia, mas sim uma prancha de surf; ele não está de terno e gravata importada, está de short; não está usando sapato mocassim, está descalço, pés na areia. Se um pastor oficial do sacerdócio não se importou com o seu “amigo” ferido, imagine só, se um homem com aspecto diferente dará a mínima atenção?
Realmente, aquele homem não tinha aspecto de pastor sacerdote, mas para surpresa de todos, ele era um discípulo de Jesus. Aprendeu com os ensinamentos do Cristo, a cuidar, respeitar, proteger, integrar, amar e jamais abandonar alguém na caminhada da vida, principalmente, se este alguém estiver no vale da sombra e da morte.
Este discípulo se recusa a ser chamado de pastor sacerdote, pois não compreende o ministério pastoral como meio de sobrevivência e sim como fonte de vida e graça, inclina sua prancha de surf para que o pastor ferido segure e seja trazido de volta à vida. Ele se envolve com o pastor ferido, não querendo saber quais as causas das feridas, quer apenas curar suas chagas e oferece afeto, atenção e amor. Este discípulo pode ser aqui chamado de pastor amigo!
Este pastor amigo, não se importa com falácias e possíveis críticas que podem ser feitas ao pastor ferido e que, por conseqüência, poderiam lhe atingir também. Ele se envolve com a vida, gera vida, protege a vida e possibilita ao pastor ferido, ser curado, restaurado e renovado, para que o mesmo prossiga na caminhada da vida, com mais cuidado e tendo em seu coração, a certeza de jamais deixar alguém caído à beira do caminho.
O rabino então conclui a parábola fazendo a seguinte pergunta ao Phd: Para você, qual dos dois pastores foi um bom pastor, o pastor sacerdote ou o pastor amigo?

O Phd responde: O pastor amigo!

O rabino então conclui: Você realmente é muito inteligente! Vá e haja sempre desta maneira!! Nunca, jamais, em hipótese alguma, deixe alguém caído à beira do caminho!
A proposta do Reino de Deus é justamente esta: está ao lado daqueles que, por algum ou qualquer motivo, foram esquecidos, desprezados, rejeitados a beira do caminho da vida.

Agora eu quero lhes perguntar: O seu pastor é sacerdote ou amigo?

Ildeilson Santos.

5 comentários:

  1. Dey, me lembrei do dia que vc pregou sobre o bom samaritano lá na Igreja, essa mensagem nunca vou esquecer!
    bjs

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  2. Belo texto meu irmão, as percepções sobre as manifestações na vida dos que se identificam com o ministério Pastoral é muito interessante. A parábola com certeza toca em pontos importantes na construção de uma vida dedicada ao ministério pastoral.
    Como descobrir se o Pastor é um “Pastor amigo” ou “Um Pastor sacerdote”, bem, caminhando pelas vielas que a Bíblia nos apresenta fui conversar com o texto e ele deu um salto na medida em que eu lia, pois em Êx. 33.1-3 me fez perceber uma realidade muito dura, o texto pra não ser prolixo nos mostra nos versículos 2 e 3 Deus faz uma proposta pra Moisés que ele teria vitória sobre os seus inimigos e possuiria a terra prometida, mas Deus diz: “Eu não subirei no meio de ti” Moisés um grande estadista e servo de Deus responde “Se a tua presença não vai comigo, não nos faça subir deste lugar” e Deus percebe que o coração do seu filho não tinha se vendido ao orgulho.
    Deus fala a seu servo: “minha presença irá contigo”, Moisés havia recebido uma proposta de caminhar sem Deus,toda via, teria vitórias sobre os inimigos. Muitos pastores preferem vender-se ao sistema e mergulhar no egocentrismo preferindo caminhar sem Deus.
    Concluo minha periférica (sou apenas um plebeu) palavra lembrando o que me falou um profeta cheio de esperança la da terra de São Saruê, pois ele me falou que ouviu certa feita de um amigo seu, que pra saber quem é o Pastor amigo que devemos encontrar pelo caminho é fácil, Por que tem pastores que nos roubam, mas há Pastores que nos devolvem, uns roubam sonhos, roubam a liberdade, roubam a nossa alegria de cultuar, mas graças a Deus existem os Pastores amigos que nos abraçam e nos faz sonhar com uma terra que mana leite e mel, ou como diz o profeta de são saruê uma terra onde as montanhas são de cuscuz e os rios de Leite.

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  3. Pow meu irmão! Você é o cara, que percepção perfeita...
    Eu também estou indo em direção a Terra de São Saruê...

    Caminhando eu vou para São Saruê... Se você não vai não impeças eu ir... Oh Glória a Deus caminhando eu vou para São Saruê!!!!

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  4. Caro amigo, é sempre um prazer lê-lo, parabéns por mais uma vez trazer uma lúcida reflexão sobre o pastoreio e a caminhada com Jesus... Infelizmente poucos são os pastores que não se deixam contaminar com os manjares da instituição, transformando as igrejas em lugares pouco parecidos com o Reino de Deus ou como vcs lembraram com a Terra de São Saruê... Para mim pastoreio é cuidar, cuidar de pessoas e igrejas sã pessoas, logo um Pastor que esquece das pessoas para gastar tempo com a instituição, um pastor que deixa seu amigo à beira do caminho, esqueceu-se de sua vocação e de seu chamado, pode até continuar sendo um sacedote, mas pastor já não é mais... Precisamos de Pastores, pastores humanos que sintam a dor do outro, e não de pastores sacerdotes que se sustentam sobre uma espiritualidade tetraplégica, incapazes de perceber o outro a beira do caminho, e de dar as mãos... Estão perdidos... Quem sabe irmão e amigo Déi... Quem sabe o Pastor de pés na areia e o Pastor Ferido após curados voltam para resgatar o Pastor Sacerdote deste caminho sem volta para o qual ele segue... Sem nem ao menos perceber que esta perdido, e caminhando para a escuridão...

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  5. Gostei muito desse pastor sem cara de pastor, me identifiquei muito com ele rs, ainda mais de pracha, muito massa!!!... Me perdoe quem nunca surfou, mas é uma experiencia belissima deslizar sobre as águas sem se preocupar se você crer o bastante pra não afundar. rsrs Infelizmente a beleza dessa proposta de cuidado mutuo baseado no amor do Cristo perdeu seu significado diante da selva de ambição pelo poder que se tornou a jornada vocacional de muitos. Hoje o Pastoreio é um cargo, a igreja é administrada, as pessoas são adestradas e consequentemente a possibilidade de vida é enjaulada na alienação. Sou muito grato a Deus por me conceder caminhar com antes de tudo Amigos-pastores e Pastores-amigos que sabem que a ordem desses fatores não alteram o chamado. rsrsrs Forte abraço a todos os meus amigos principalmente ao autor desse belo post... Shalon!

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