terça-feira, 29 de março de 2011

Que culpa tenho eu?

Eu sou apenas um pobre apaixonado que perdeu a alma.
Um protótipo de poeta!
Que vê em sua alma o mais esplêndido teor da mais sublime canção.

Que culpa tenho eu de encantar-me por um olhar tão lindo como o pôr do sol?
Que culpa tenho eu de me perder em meio ao belo de sua cor?
Que culpa tenho eu de me encontrar na essência do seu cheiro?
Que culpa tenho eu de ser mortal e me deparar com sua divindade?
Que culpa tenho eu de não conseguir fugir aos seus encantos?
Que culpa tenho eu de abrir meu coração para aquilo que Deus fez de mais belo (você).
Que culpa tenho eu de ser um ser tão carente e necessitado de sua presença?
Que culpa tenho eu de me curvar diante de sua glória?
Que culpa tenho eu de ter te encontrado naquela noite?
Que culpa tenho eu de ter olhado dentro dos teus olhos?
Que culpa tenho eu de ter recebido um abraço de tua alma?
Que culpa tenho eu de ter alma?
Que culpa tenho eu de viver no mesmo tempo que o seu?
Que culpa tenho eu de estar ao oposto do vento seu?
Que culpa tenho eu de ser Sol, e você Lua?
Que culpa tenho eu de ouvir a sua voz?
Que culpa tenho eu se meus pensamentos me traem, e quando quero fazer algo eles me trazem você?
Que culpa tenho eu se te amo com todas as expressões do amor?
Que culpa tenho eu de ser eu?
Que culpa tenho eu de te amar?
Que culpa tenho eu...?

Ildeilson Santos

segunda-feira, 21 de março de 2011

Cheiro de terra molhada!

Foi como um tino Maria!
Truvuada, cada relampeju cortando o arto do céu.
Minino corre pra butar camisa.
Cobre o espelho.
Empurra a porta e roda a tramela.
Nessa época, agente num brinca com nosso Senhor não!

Lá é assim.
Só uma ispiada pra vê que vai chuver.
Chapéu na mão, olho no céu, sorriso é gratidão!
A terra ta pronta, passou a enxada.
Agora as graças é pra São Pedro.

A chuva é vida e esperança.
Garantia do pão e fartura!
Mas não pode ser um bucado não.
E se for, tem nada não!
Caí no riachu e deságua no rio que vai dá num mar.
A chuva aqui lava a terra e leva os garranchos.
Pode até fazer valeta, mas prejuízo num dá não!

Mas é, é, é... Diferente Maria!
É diferente.
Chuva na roça é diferente.
Não é iguá a chuva da cidade não!

Lá na roça a chuva molha a terra.
Na cidade molha o asfarto!
Chuva na roça, riachu desce o rio.
Na cidade tem pra onde ir não!

Chuva na roça cheiro de terra molhada.
Chuva na cidade cheiro de morte e lamúria...
Lá na roça quando vem a chuva o homem da gaitada.
Na cidade quando vem a chuva o homem chora.
Tem medo, querem ir embora...

Ir embora pra onde Zé?
- Só Deus sabe Maria!
Quer vortar pra roça, pra sentir cheiro da terra molhada.
Mas num dá mais pra vortar.
Agora tem que incarar.
Por que homem que é homem, é homem até num mar.

Ildeilson Santos

terça-feira, 15 de março de 2011

Avesso!

Vontade
de
gritar!

Certeza
do
silêncio.

Foi-se
embora.

Chegou
pra
ficar!

Eu vi.

Não
contemplei!

As
mãos
caminham.

Os
pés
tocam!

A
boca
sente.

O
coração
fala!

O
Avesso

d-o-e-u!


Ildeilson Santos

segunda-feira, 14 de março de 2011

"Deus me aceita eu pastor!"

Marcado pelo sentimento protestante/missionário de levar Deus até as pessoas, fui de forma arrogante e prepotente como pastor à casa de uma irmã na tentativa de encaminhá-la à presença de Deus. De acordo a mim mesmo, poderia aliviar aquela alma que julgava está atribulada pelos dilemas da vida.
É horrível e também preconceituoso dizer que as pessoas não têm Deus, e que nós somos os únicos filhos de Deus, a nação eleita, geração santa, povo escolhido. Assim fizeram os missionários americanos ao chegarem aqui. E assim fazem as nossas igrejas todos os dias. (((((Meu Deus quanta arrogância!)))))
Não faz muito tempo que vi escrito em uma camisa: “Levando Jesus ao Nordeste.” Isso é patético, ridículo e horrível. Esse etnocentrismo das igrejas cristãs é uma tentativa de aprisionar Deus, dizendo que nós o possuímos e por conta disso temos a verdade, e a partir da nossa bondade levaremos a Palavra para aqueles que estão distantes da luz, aos ímpios. Somos de Deus e os demais do Diabo. Quem é ímpio mesmo nesta história?
Fico a pensar: será que Deus não estava presente no Brasil, antes da chegada dos “missionários” americanos? Será que o Espírito Santo não pairava acima das águas dos mares e acima das terras dos recônditos desse país antes da chegada desses “missionários?”

E lá estava o patético pastor, acreditando mesmo que poderia levar Deus a algum lugar ou alguém. Esforçava-me para mostrar a graça de Deus, sua bondade, seu amor, sua companhia e os demais atributos. Quando de repente, aquela mulher cheia de tatuagens, cabelo black power, com um jeito meio hip, uma forma de se expressar bem diferente da minha, dizendo: “Massa, beleza, de boa, só, idéia, valeu brother, é o cara, mano, aloprado, nóia, baqueado, deixe de onda véi, só filé, colé...”
Ela com esse jeito descolado de ser, usou uma frase que não saiu mais de minha memória: “DEUS ME ACEITA EU PASTOR!”
Não sei se a gramática permite esse: “Deus me aceita eu pastor!” Mas de que importa falar escrever certo e fazer errado. Melhor falar escrever errado e fazer certo. Hoje essa frase tem corrido em minhas veias, latejado em meu coração, gritado em meus ouvidos. E quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz a Igreja.
Passei quatro anos e meio no seminário, li alguns livros, assistir algumas aulas, ouvir vários teólogos falarem sobre Deus, participei de encontros, palestras, seminários e outros mecanismos que somaram e muito para minha existência. Mas confesso que depois desta visita feita a esta irmã, pude de fato perceber que Deus não se prende a dogmas, preceitos, ideologias ou qualquer outro tipo de sistema que tente enquadrá-lo. Deus é e acontece na existência de cada pessoa, de cada cultura. Aquela serva de Deus me fez ver que não vamos nunca levar Deus a algum lugar, iremos sempre descobri-lo, descobrir o Deus que sempre se fez presente, mesmo sob forma desconhecida e anônima.

De uma coisa estou certo, não levei Deus, mas de fato o descobrir por lá.

Ildeilson Santos

quarta-feira, 9 de março de 2011

Possessão


A declaração universal dos direitos humanos assegura que a liberdade é um direito inalienável da pessoa. A manutenção da vida depende de cada ser em seu próprio estado de ser gente, pessoa, não de outrem. Quando outra pessoa usa da “posse” sobre alguém acontece a violação e o estupro da vida!
Estou ainda linkado de alguma forma ao último texto que postei, quando falei sobre “posse”. É que ultimamente tenho visto redes invisíveis que pescam de forma agressiva vidas que deveriam ser livres como as borboletas e intensas em seus avessos como as ondas do mar.
A “possessão” é ação tão demoníaca que a consciência do possuído tem a certeza que a vida agora já não lhe pertence, pois está em outras mãos, criando um ambiente de extrema fragilidade da experiência humana, uma vez que a vitima acredita que a rendição é o único meio de garantir a sobrevivência.
Quem não tem medo dos demônios? Quase toda a humanidade teme esses espíritos oriundos das mais profundas trevas. É isso mesmo! O possuidor é um demônio que usa do medo para paralisar sua vitima. Temer uma pessoa é o mesmo que lhe entregar o direito de nos assombrar constantemente. Conversando com um amigo em uma cidade distante ele me disse: “Estou longe de casa à três dias, tinha que ter voltado ontem, porém não deu certo, irei retornar amanhã e estou com medo de minha esposa.” Sempre que estamos paralisados pelo medo, de alguma forma, estamos privados de nós mesmos. Só assumimos nossa identidade quando conseguimos olhar nos olhos das pessoas, e dizer o que sentimos e o que queremos, não como afronta mas como autenticidade. Meu avô dizia: “O cão tem o poder de perceber nosso medo, e isso o encoraja para nos agredir. Olhá-lo nos olhos é um recurso que inibe o ataque”.
A possessão atinge níveis catastróficos, pois mina a convicção do possuído, causando o esquecimento do ser. Algumas pessoas já não conseguem viver longe das correntes que aprisionam suas vidas. Esqueceram da liberdade, não sabem viver livres, tem medo da liberdade; as gaiolas projetam segurança, equilíbrio e tranqüilidade. Preferem ser possuídos, acorrentados, precisam do medo para sobreviver. Medo que acorrenta os pés, que cega, que faz esquecer o que temos de mais lindo, medo que nos faz esquecermos o que amávamos, dilui nossa identificação e que atrofia os sonhos.
Um dia Jesus de Nazaré encontra um jovem que sofria possessão demoníaca, por conta disso, vivia nos sepulcros como um animal, amarrado, acorrentado, ninguém podia contê-lo. O endemoniado de gadareno. Este jovem era vitima de uma casta de demônios que fora denominado de Legião. Jesus expulsa a legião, deixando o jovem livre, absolutamente liberto, transformado, com possibilidades de ser gente, de cantar, pular, correr, ir ao carnaval, visitar o kabanas e fazer tudo o que mais lhe interessava. Porém, tal jovem parece não saber viver livre, tem a necessidade de ser possuído novamente, quer ir com Jesus, precisa se sentir preso como antes. O mestre lhe impede dizendo: Você é livre, não te livrei dos demônios para que seja meu escravo, não é esta a proposta, volte para os seus!
Jesus resgatou a vida daquele jovem, este resgate possibilitou devolver-lhe a si mesmo. O corpo antes acorrentado, amarrado e negado, volta a si pertencer. Volte para sua casa, seu quarto, seus familiares, retorne ao seu mundo. Não precisa vir comigo. Agora és livre!
Essa é também uma liberdade concedida aos familiares daquele jovem, pois eles foram livres da dor de ter um ente querido possesso. Liberdade é porta aberta pela qual passaremos todos nós!
Uma vez livre da possessão é preciso festejar o retorno, assim como na parábola do filho pródigo que retornou depois de um longo período possesso por ele mesmo. Distante dos nossos significados, não há possibilidades de felicidade. Quem já foi objeto de posse sabe muito bem disso.
O retorno pra casa lhe devolve a capacidade de reassumir a identidade perdida.
Volte para os seus... Volte para você mesmo (a)...

Ildeilson Santos
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