Acredito que a maioria de nós já vivenciamos paixões arrebatadoras, daquelas em que o coração palpita mais rápido que os segundos, causando sensações totalmente desconhecidas, onde os sentimentos são como furações a deriva que engolem tudo e todos ao redor, não há freios muito menos impossibilidades. O que há mesmo são desejos imaculados e malucados, o santo e o profano que se envolvem tornando-se uma divindade suprema dentro de si mesmo. Em momentos como estes são feitas provas exageradas de amor, confissões de fidelidade eterna e rompantes inesperados de ciúmes. São nessas horas que surgem à maioria dos casamentos, das entregas de corpo de alma e existência. É exatamente nesta caminhada que muitos confundem o amor que deveria ser construído com o respeito e a liberdade do outro com um sentimento que atende por nome de posse. A posse nos leva a agirmos como dono da vida do outro, esta ação pode ser prazerosa para o possuidor/opressor, mas pode e vai ser fatal num relacionamento.
Alguém já disse que a posse é o medo de perder o amor. Mas quero ir mais além, penso que o sentimento de posse é demoníaco e não está preocupado em perder o amor, mas sim o domínio que se tem sobre o outro.
Certa feita assistir um filme que tem por titulo “Encaixotando Helena”, de Jennifer Chambers. No filme, um cirurgião de renome, muito bem conceituado, forja um acidente para que a vítima, por quem era obcecado, seja levada para a casa dele. Com o tempo, ele vai mutilando-a cada vez que pensa na possibilidade de ela escapar. Esse filme chama a atenção para como o sentimento de posse é destrutivo e não condiz com o relacionamento amoroso. Na verdade o cirurgião nunca se importou com ela, mas com ele. A satisfação dos seus desejos era o único objetivo. A posse poderia ser atrelada a um autismo afetivo, em que não há comunicação muito menos respeito com o outro. Não existe sequer o outro em si. Existe apenas enquanto ele traz algum ganho, quando não, dar-se um fim no possuído.
Se o controle sobre a vida do outro supera o seu bem-estar, é sinal de que há algo errado. O alerta está para quem impõe este domínio, mas também para quem se deixa levar pelas imposições feitas.
Você tem sido possuído por alguém?
Está possuindo alguém?
A posse descaracteriza a humanidade do ser, tanto do possuidor quanto do possuído. Na minha insignificante experiência, percebo que mais de 70% das relações estam acorrentadas no sentimento de posse. Isso se dá entre todos os níveis de relacionamentos, amoroso ou não.
Posse é a tentativa de assimilar o outro, impedir que ele seja ele mesmo. É fazer do outro aquilo que o possuidor quer. O possuído encarna até mesmo o rosto do possuidor.
E este rosto é muito parecido com a morte.No fim ninguém é de ninguém...
Ildeilson Santos